Para além deste, escrevo em outros blogs: um dedicado à Clarice Lispector, outro à Irene Lisboa, enfim um terceiro sobre a Maria Ondina Braga. Ah! E um outro com o meu nome que durante uns anos foi alimentado com «leads» do que eu escrevia numa pequena plantação de outros blogs que, como cogumelos, foram nascendo, alguns a esmo, uns quantos de curta duração, todos parasitas dessa ânsia de dizer. Esses estão suspensos, à espera de melhor ver.
Essa proliferação de escrita levou a que surgisse uma exposição intimista nem sempre desejável e que se prestou não sei quantas vezes a vários equívocos. Acontece o mesmo quando se escrevem livros de ficção: o leitor toma-os frequentemente como se fossem auto-biografias disfarçadas. Na blogoesfera o efeito é, porém, mais potente.
Quando não eram escritos de intimidade devassável e adulterável, alguns desses blogs tinham ingénuos e pouco conseguidos objectivos de intervenção cívica, ou na área social e política ou na área jurídica, por causa da minha profissão. Sucede o mesmo a tantos que julgam que transformam o mundo a partir da blogoesfera quando por vezes alcançam apenas um aceno de concordância dos já convencidos. A blogoesfera amplifica essa vaidade de opinar, permitindo a cada um a vaidade de ser o director e o jornalista - e quantas vezes o solitário leitor - do seu próprio jornal.
Tudo visto achei num certo momento que era bom parar. A verdade é que o meu mundo mudara e eu mudara-me por causa disso para a casa das letras, com um blog que é este onde se fala de livros e de ofícios correlativos à escrita. Dei-lhe o nome que é parte do meu nome e que já usei como pseudónimo literário. Para além de espaço de leitor, o blog trata do que a cultura assume como fazendo parte da família.
Viciado em ler e iniciado na arte de escrever, dei comigo agora a ser editor, que é uma forma de se conseguir que surjam os livros de que se gosta. Tudo isso, que é o meu presente e será talvez o meu futuro anda à solta por aqui.
Uma só coisa mudei e vim aqui dizê-lo: reabri ontem à leitura os blogs que antes existiam.
A minha ideia ao tê-los encerrado foi virar a página desse tempo e recolhê-los para o interior ignoto como quem corre gelosias. Só que a menção que aparecia a quem tentava aceder-lhes era que doravante cada um daqueles blogs só podia ser consultado por leitores convidados. Ora essa ideia elitista e por isso selectiva não correspondia ao meu pensamento nem ao meu sentimento. Mas era o que as pessoas retinham com toda a sorte de confusões. Como diria o o outro «um certo mau aspecto».
Pronto aí está tudo de volta, taipais soerguidos.
Mau grado algumas cartas que recebi, continuo a pensar que a minha intervenção cívica não justifica em resultados que possa ter a pretensão vaidosa de imaginá-la útil. Quanto às crónicas do quotidiano prefiro abster-me. Não tenho segredos, quero ter é sossego. O que for ficção, ficcionar-se-á. Fiz publicar um romance estou a escrever outro.
Em suma os blogs agora legíveis ficam no estado em que estavam, cometas imóveis num espaço em que o tempo parou.
Em suma os blogs agora legíveis ficam no estado em que estavam, cometas imóveis num espaço em que o tempo parou.
P. S. Para mostrar que tudo na vida tem um tempo, ilustro este post com uma fotografia. É a Avenida 5 de Outubro aqui há uns tempos atrás. Imagine-se que o cavalo pensava que a carroça, que era inevitável para ele mais aos que nela se alapavam, era uma exigência do futuro!