O seu nome na rádio era já só uma reminiscência. Encontrei, porém, o livro que se chama A Cicatriz do Ar. Penso que esse é o nome de um capítulo de versos, que acabou por dar nome à obra. Os primeiros textos são dedicados à escrita e ao acto de escrever. «Às vezes acho que escrever é um acto solitário; outras, considero-o como o único momento em que se não está só», diz Jorge Fallorca, poeta e tradutor, em irremediável vagabundagem pelos territórios luminosos do Sul.
Li o livro todo. É pequeno. Foi impresso numa tiragem de duzentos exemplares porque lê-se pouco, diria, em Portugal.
Ficou-me de memória este excerto: «No metro uma miúda estrangeira serra as cordas do violino à medida das suas necessidades». Acompanha-a um outra, pedinte de moedas, que invectiva os passageiros: «estende-lhe um sorriso que termina num pequeno gorro, onde as moedas se recusam a repousar, alheias ao esforço da violinista em domesticar os sons (...)»