Se isto fosse um blog sobre crítica literária eu viveria o pesadelo da avaliação, a obrigação de ter um juízo público, pior o dever de estar actualizado. Leria ao ritmo acelerado do que se publica para poder opinar ao ritmo do que se julga ser lido.
Mas isto é um blog de um simples leitor. Ora um leitor, «este leitor que sou eu» como se exprimia ontem o Mário Zambujal, não tem de ter uma opinião, porque pode ler silenciosamente para si mesmo, não tem de estar actualizado, porque pode ler sobre o que já saíu das montras e as livrarias devolveram, bem pode poupar-se ao juízo público, porque a sua livraria é a única publicidade para os que lhe visitam a casa e não há essa categoria de seres humanos, pode inclusivamente dizer que não tem de falar sobre o que espera que os outros leiam ou recusem ler, porque não faz pedagogia, nem tem espírito de proselitismo, de catequese, de propaganda, nem ânimo de maledicência.
Blog de livros este procura ser amável talvez porque muitos que são da crítica literária tendem a ser ríspidos. Há em muitos dos chamados críticos aquela doença de alma do crítico gastronómico do filme Ratatouille. São temíveis quando imprevísiveis, respeitados pois que inesperados. Estão zangados com as letras e desconfiados dos que escrevem. Alguns tendem a ser polícias do gosto, outros defensores dos seus iguais. À força de serem procuradores da república ou advogados oficiosos inutilizam-se para serem juízes. Pior: incapacitam-se como escritores, a imaginação roída pela inveja, a criatividade minada pela desilusão.São pessoas tristes, que gostavam de ler por prazer, mas escrevem com agonia. À força de criticarem o gosto perdem o gosto de criticar. Quando não está salgada, a comida sabe-lhes a insosso.