Dizem os editores que um livro muitas vezes se vende por causa do modo como começa. O leitor fica com o paladar no palato e depois quer devorá-lo todo. Senti isso há uns bons anos quando tive nas mãos o livro Trabalhos e Paixões de Benito Prada, do Assis Pacheco. É a história de um galego, a história carinhosa e raivosa de todos os galegos, dos aguadeiros, dos tasqueiros, dos carregadores e amoladores, dos que entraram na História Universal por se chamarem Francisco Franco (Bahamonde), de Ferrol, ou Fidel (Alejandro) Castro (Ruz), de Birán, ou coisa nenhuma com muitos «xes» e outras sibilantes em nomes de vogais fechadas de dentes cerrados. Uma história de gente sacrificada, vindos de uma terra que é com Portugal uma só Nação, plantados num país com uma língua cheia de diminuitivos familiares, gente de emigração.
Pois, voltando ao livro, ele abre assim: «Quando o Padeiro Velho de Casdemundo teve a certeza de que o Manolo Crabra lhe desfeiteara a irmã, em dois segundos decidiu tudo. Nessa mesma noite matou-o de emboscada, arrastou o cadáver para o palheiro e foi acender o forno com umas vides que comprara para as empanadas da festa de San Bartolomé. O irmão do meio encarregou-se de cortar a cabeça ao morto. O Padeiro Velho amanhou-o e depois chamuscou-o bem chamuscado. Às duas da manhã untou o Cabra de alto a baixo com o tempero, enfiando-lhe um espeto pelas nalgas. Às cinco estava assado».