Surgem como cogumelos em dias de chuva, como flores ao raiar do sol. E depois vão-se, porque o contrato com os distribuidores é assim e porque abrem vaga para novos corpos nos escaparates, como nos cemitérios as vagas sucessivas de cadáveres, a sucederem-se, exceptuados os dos jazigos, que na Literatura se chama «os clássicos».
São os livros que já não se encontram porque foram devolvidos e são guilhotinados depois de uns anos sem esperança de venda. Livros que alguma biblioteca particular retenha, ou salvos do esquecimento pelo depósito legal que lhes dá coval garantido na Biblioteca Nacional e outras tantas que são armazéns em nome da Lei.
Livros como o Largo da Memória de Homero Serpa. Onde encontrei esta noite esta linha sublinhada a propósito dos pretendentes da Susana e do sentimento que isso provocava em Domingos, «deixando-o escorregar pelo clivo da ingenuidade até se estatelar no irremediável».