O espaço só existe quando vivido, assim como a vida só existe enquanto sentida. Tudo o mais pode ser nada.
Kapar Hauser, ao virar as costas à torre onde esteve prisioneiro, sabe que desaparece esse espaço que foi o do seu confinamento. A sua inteligência superior porque incomum leva-o a essa suprema sabedoria ante a qual nenhuma lógica resiste. A grandeza do filme de Werner Herzog é a de ele ter construído uma obra extraordinária a partir de uma personagem que é a projecção do autor. O actor, Bruno S, esteve ele próprio internado durante dez anos num hospício para doentes mentais, por ser incapaz de aprender a falar. Tinha quinze anos quando fugiu dessa reclusão forçada e inútil. Viveu doze anos «entre fugas, hospícios, casas de correcção e prisões». Herzog conhecê-lo-ia e contratá-lo-ia como autor, este homem para quem é a representação e a vida se confundem.
O filme é «o grito terrível do silêncio»: Chama-se Cada um por si e Deus contra todos. Foi rodado em 1974. Estava ontem na Cinemateca.