Sabia que existia mas não o encontrava. Quando passava pelas livrarias, pelos alfarrabistas, pelas vendas ambulantes perguntava-me com os olhos mas ficavam cegos. Trouxe-o este fim de semana. Já é uma terceira edição. Trata de Fernando Pessoa. Mas não dos vários, distintos, diversos, heterónimos, mas sim e por isso se chama Um Fernando Pessoa. Se a aritmética de que Almada Negreiros fez arte, o 1+1=1, dá sentido e vida ao que é disperso e somatório e por isso imprecisão, ei-lo aqui, uno porque plúrimo e certo.
Comecei-o ontem, enquanto esperava o que não sabia ia ser uma última vez. Ao acaso li sobre Ricardo Reis. Ao chegar hoje a casa, vencidas as urgentes obrigações, que se incumpridas me tornam ainda menor, descobri que só tinha a obra em prosa atribuída a esse outro Pessoa pagão e tradutor. «Abomino a mentira porque é uma inexactidão», disse. E acrescentou «aos deuses peço só que me concedam o nada lhes pedir». Agostinho da Silva escreveu em 1959. Genialmente diferente.