Lê-se e uma pessoa sente-se transportada para o lugar. Não só o lugar acanhado dos quartos alugados, o telefone no corredor, os livros a esmo por onde há espaço para os arrumar, os quadros a aguardar uma parede livre para poderem ser pendurados. Sim o lugar sentimental em que se reclama solidão à companhia, o lugar dos biscates que dão para as contas por pagar e outras ficam por solver e sempre livros, e arte e culturae sobretudo humanidade.
Uma pessoa lê e sente a tristeza de quem se entristeceu e as esperanças que são a antecâmara da alegria e a vida a escorrer pelas páginas de um livro
Não é uma biografia é um relato de viagem. Luís Amorim Sousa viajou pela vida do poeta Alberto de Lacerda. A Assírio & Alvim editou.
Alberto «sabia que nem todos os que entravam no seu mundo eram dele residentes». Luís compreendeu-o amorosamente. O livro não é uma confidência, é um murmúrio de rememoração como uma prece.
Levei comigo o pequeno volume e li-o enquanto o autocarro da Mundial Turismo rumava para sul. Era sábado e a tarde prosseguia e com ele a minha leitura.
Regressei hoje na Rede Nacional de Expressos que é o mesmo um pouco menos melhorado. Ao chegar a Lisboa, há pouco, a história tinha terminado. Como sucede com todas as biografias quando já não há mais a dizer e a vida só sendo inventada para se poder contá-la.
Pedi à Liliana que me arranjasse mais para ler. Talvez um dia a fotobiografia, para já o Pajem Formidável dos Indícios, afinal, todos os livros quero eu dizer.