Quando Leopoldo Danilo Barreiros escreveu "A Paixão Chinesa de Wenceslau de Moraes", anexando-lhe a correspondência que trocou com o filho do insigne escritor, João de Sousa Moraes, quis no fundo reabilitar a sua relação amorosa daquele com a chinesa "Atchan" [abreviatura do nome Vong-Ion-Chan]. Porque havia ficado a lenda de que de repúdio se tratava quando ele partiu para o Japão, onde encontraria dois funestos amores com Ó-Yoné e Ko-Haru, as quais lhe faleceriam em circunstâncias dolorosas que o arrastariam para o desespero, porta para o exílio em Tokushima.
Encontrei-o agora no "Chaminé da Mota", numa reedição de Cecília Jorge e Beltrão Coelho, que li, porque pequena, nos intervalos de duas pesadas obrigações.
A iniciativa é carinhosa. Não difamar um amor mesmo quando falhado. Comovente, sim, ver como o filho daquele a quem os japoneses chamavam de "Portugaru san" [o senhor Portugal] se refere, em perdão póstumo, à perda da intimidade do pai que, mantendo o sustento, se lhe tornou distante, ele um dos «tocados do mal da tristeza», pai que se correspondia com ele, com o irmão e com a mãe através de Feliciano Francisco do Rosário, um macaense que servia de benévolo intermediário epistolar.
Viveria, isolado, uma vida "retroactiva", moendo saudades, cortado o cordão umbilical à Pátria dos portugueses. Para o degradarem muitos apodaram-no "o homem que trocou a alma". Nunca foi, porém, outra coisa se não português, habitáculo remoto da alma portuguesa no seu ocaso fatal.