Sigo-a por todo o lado na forma de quanto escreve. E por isso só comprei hoje o livro quando descobri que tinha um conto seu, publicada a obra pela FNAC para comemorar o dia mundial do livro.
Ao tentar explicar-me dei conta de que a minha memória falhava pois já não lembrava todos os títulos a que dera vida e não foram muitos. Mas tinha fixado o essencial do enredo, e tinha sobretudo um vinco fundo na sensibilidade derivado de a ter lido. E o espanto do primeiro dia.
Tal como num conto policial, Dulce Maria Cardoso vai deixando, pegada sobre pegada, os sinais sobre o mote «os livros salvaram-me». Não se fala nisso porque há que salvar o prazer de quem ler e que siga o caminho assinalado que leva à descoberta. «Identificar os acasos que nos nos trouxeram ao que somos só nos torna mais frágeis. Fazemo-lo na esperança de percebermos como nos aconteceu tornarmo-nos o que somos», é uma das suas frases que dita a lógica da escrita, o retrato de um mundo inevitável mesmo mas acidental.
«O pensamento dos velhos é circular», diz a personagem quase depois do arranque da breve narrativa, ou di-lo ela por ele pois há um tempo em que tudo se confunde. Só que ao velho sucedeu o azar de uma fatalidade. Surgiu esta história «livremente inspirada em factos reais».