Imagina-se esquálido, casquinante de sarcasmo, fustigando amigos e desprezando adversários caídos, mas paradoxal sempre, piedoso, vivendo entre a magreza da pecúnia e a opulência da criatividade, mas aureolado pela jovialidade que seria o círculo mágico que o defenderia do mau olhado da desolação.
Mito puro. No Verão de 1870 escrevia a Jaime Batalha Reis e a Antero de Quental, cognominando-os, em triunfal gargalhada no pórtico da epístola de «Queridos Amigos Snrs. Batal e Quentalha»!
Eça de Queiroz estava administrador de concelho em Leiria. «Imaginem-me aqui nesta terra melancólica, só sem um livro, sem um dito, sem uma conversa, sem um paradoxo, sem uma teoria, sem um satanismo - estiolado, magro, cercado de regedores. e devorado de candidatos!».
Numa carta em que chibateia a neura com o azorrague da ironia e termina com «saúde, paternidade e água», o magnífico escritor confessa do seu mundo a pequenez: «o melhor do tempo ocupo-o a ver em volta de mim morrer a minha vida».