Há muito que a procurava. Hoje na Livraria Almedina, do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, encontrei-a, ou melhor, estava à minha espera. «Há que tempos que o não via, ainda está interessado nela?», perguntou-me solícito o empregado, amigo. Era verdade que «há que tempos» e verdade também que «ainda estava interessado». Nunca deixei de estar.
Comecei a lê-la esta tarde, à biografia de Eça de Queirós escrita por Campos Matos. E a ler, primeiro a esmo, começando pela sombra da perseguição dos problemas financeiros a que foi sujeito a vida inteira. «Vivamente apurado», no refogado dos apuros, as «atrapalhações de dinheiro» iam-no envelhecendo. Despesas acima dos ganhos, gastos desordenados. Um mês decorrido sobre a sua morte, um dos seus mais dedicados amigos, o Conde de Arnoso, escrevia ao director do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, a implorar ajuda para a família, que, segundo ele, "havia ficado na mais negra miséria". A 21 de Maio de 1901 a Câmara dos Deputados aprovava uma pensão para a viúva [como vem relatado aqui]. Esta «viria a ser anulada pelo governo da República, devido ao facto de dois filhos de Eça terem participado nas incursões monárquicas do Norte de Portugal em 1912», como confirmei aqui.
Vergonha.