Talvez pudesse dizer em nome da sensatez do que não tenho que não podia, ou do escrúpulo do que não fiz que não devia, mas trouxe-o porque o título Trabalhos de Paixões de Fernando Assis Pacheco se sobrepõe à obra deste, a magnífica narrativa galega Trabalhos e Paixões de Benito Prada, cujo parágrafo de arranque me fulminou. É um livro bonito, como são todos os da Tinta da China, escrito por Nuno Costa Santos que o quis apenas como «crónica biográfica, talvez por pudor. E comecei a lê-lo, minado de tosse e moído de cansaço, mas leio e gostava de ser capaz de o terminar esta noite, assim não me vença o sono ou a morrinha.
Não sei porque se escrevem biografias nem porque as leio, vivendo assim, sub-rogada, a vida alheia como se própria fosse.
Jornalista, escritor, o jornalismo foi a sua profissão dominante, mas viveu-a como escritor, o refinamento da frase, a estrutura do contar.
Parei na página setenta e seis. São dias difíceis em que um homem se não reconhece e procura-se em tudo quanto há, como nele, que aumentou a vida através do prazer de existir.