Dia que para tantos é de arroxeada mortificação, expiando do mundo as dores e purgando da alma as chagas, dia de calvário e prostração, dou comigo a ler o Manuel Teixeira Gomes, naquela miscigenação do céu com o mar e dos sentimentos com as sensações. Literatura de carnalidade, de anseios febris e desilusões vingadas na comunhão artística, viandante pelas terras do Belo, nascida da luxúria que o tempo não consome, da degenerescência com que a idade corrompe.
Agosto Azul. Livro estranho, como se sintomaticamente sem género, escandalosamente surpreendente ao virar de escusa esquina no volteio inesperado de uma folha epistolar.
E dou com ele, contando-se, cevando o ferido orgulho macho, cortejador impenitente, pois que a exibia pelo braço, esplêndida fêmea, «fonte de celestes amavios», «manjar branco», adivinhada maciez ao acto e afinal sáfica, «inapaziguavelmente sáfica», e tendo-o por condutor e conduzido, a orientá-la por bordéis, para que, ali no serralho também ela se servisse do que lhe apaziguava a lascívia, mulheres fáceis, e ele, rasgando-se-lhe no coração a dor da impossibilidade, que a contemplação não sarava, alodado no vício, dele consciente, incapaz de lhe escapar, subrogado ali e assim se substituindo.
Dia de espera, hoje, morto o corpo, a alma sustém a respiração. Ressurgirá, como sinos de catedral, rebates de consciência, no homem integral, no máximo esplendor do pináculo das suas virtudes, nas catacumbas dos seus pecados. Domingo.