Chegou hoje pelo correio, um livro em formato fascículo, escrito por Machado Santos.
Herói da República, aguentou-se com um grupo de bravos na Rotunda, contribuindo para a inversão das forças que levariam à queda da Monarquia. Filiado na Carbonária, morreria assassinado em 1921. Leia-se sobre ele mais aqui. A sua vida é bem a imagem do gérmen que levaria cinco anos após a sua morte ao Estado Novo.
Desencantado, este seu escrito de 1916 é bem o retrato da desilusão. Editado pela Papelaria e Tipografia Liberty, de Lamas e Franlkin, com loja na Rua do Sacramento, 88-90, nele se relata: «Fizemos o possível para que a República não viesse a transformar-se n'uma roça que fosse propriedade dos seus três grandes caudilhos que a têm administrado em comandita. Infelizmente a morte de Miguel Bombarda e a de Cândido dos Reis, que se lhe seguiu, tudo nos transtornou. A morte e a traição; pois que rendo de se preencher, apenas, as vagas desses homens ilustres, houve quem aquiescesse, sem o nosso consentimento, a alteração profunda que se fez na constituição do primeiro governo da República, que deveria ter sido esta:
Presidência e Interior: Bazílio Teles
Justiça: José de Castro
Fazenda: Inocêncio Camacho
Guerra: Ramos da Costa
Marinha e Colónias: Carlos Cândido dos Reis
Negócios Estrangeiros: Miguel Bombarda
Obras Públicas: António José de Almeida».
Como se sabe o primeiro governo provisório da República ficaria assim formado:
Presidência: Teófilo Braga
Interior: António José de Almeida
Justiça e Cultos: Afonso Costa
Finanças: Basílio Teles, uns dias depois substituído por José Relvas
Estrangeiros: Bernardino Machado
Fomento: António Luís Gomes
Guerra: António Xavier Correia Barreto
Marinha: Amaro de Azevedo Gomes
«Com um governo assim constituído n'uma situação tão anormal fatalmente havia de passar para a rua a anarquia que lavrava nos espíritos», conclui o autor.