E de repente um homem nota que é Natal. E um homem sente que há histórias para contar sobre o espírito de Natal. Porque há Natal e o espírito de Natal. E o dia de Natal. E a véspera de Natal.
Há um dia em que um homem pensa como vai sobreviver a esses dias sem entristecer demais.
Um homem pensa se com bacalhau consegue simular um jantar contente, com peru fantasiar um almoço alegre, se com filhós chega a adormecer, adocicando-se feliz, ao lado do Menino Jesus.
De repente um homem embebeda-se nocturnamente com canções que são nostalgias solitárias de infância e tem desejos de carinho no sapatinho e um presépio com musgo que seja uma alegoria de um lar.
Esta semana vai ser a véspera e o dia e o dia depois. São lágrimas do tempo que foi e da vida que podia ter sido.
Era uma vez um rapazinho que ia a 24 buscar sua mãe a um medíocre emprego para virem para casa consoar silêncio. Hoje estão ambos velhos, ambos separados.
Ao repicar dos sinos sucedia então o bater dos talheres no fundo do prato. No dia seguinte vinham para a rua, para ver se o dia acabava mais depressa. 26 salvava-os da agonia.
A história repete-se menos o emprego, menos os sinos, resta apenas o dia 26 e com ele a esperança de que haja um mundo onde se salvem.
Se houvesse um Deus querido e meigo e amigo de quem sofre não tinha nascido. Vivia apenas eternamente, sempre menino, sempre a sonhar a manhã de Natal. Dormia-se então ansiando a felicidade matinal do dia das surpresas. Naquele tempo eu gostaria de ter tido uma bicicleta. Nunca ma deram, com medo que eu caísse. Tinham razão.
Um dia haverá o Natal para os outros. Lentamente ela chega, uma vida já só feita de memória.