Houve tempos em que as pessoas escreviam os cartões de Natal a tempo e horas, tendo o cuidado carinhoso de anotar umas palavrinhas amáveis e esperançosas e manuscrever o próprio envelope.
Claro que havia os que tinham muitos cartões a enviar e pediam a alguém que fizesse o envelope e o texto por vezes já era pré-impresso.
Depois foi-se reduzindo tudo à chamada lei do menor esforço e há os que já só assinavam o cartão dito de Boas Festas com uma rubrica. Em alguns casos até o mísero autógrafo já vinha impresso.
Chegou enfim a net e com ela passou a ser possível ter um texto de chapa 5, igual para tudo quanto é gente e ala de meter umas palavrinhas de pretensa personalização no chamado cartão de BF.
Agora chegámos ao ponto do já nem isso: é um email para toda a gente, indistinto, indiferenciado, vai-se ao mailing list tecla-se enter e água vai. São clientes, são fornecedores, tudo ao molhe mais os amigos, que desde que se descobriu o bcc a malta recebedora nem topa quem é que é foi quem, que é mundo de quens, perdão abaixo de cães.
Um destes dias tenho de pensar a sério a legítima defesa da minha sensibilidade. E em vez de me dar ao esforço de, saído da manada dos destinatarios, ainda escolher uns quantos casos de amigos sem tempo e ir com umas palavras de resposta a pensar no próprio remetente, fantasiando a sua presença no meu coração, ainda que sem fitas, mesmo sem sinos, sem anjinhos ou velinhas, preparo uma «automatic reply» «to all» a dizer, vindo do fundo da alma: «Vai tu!»
Que tal? Gostam? Como diz a minha amiga engenheira que jura ter visto no cinema e eu acredito «cria corvos que te comerão os olhos».