Entra-se numa livraria e estão ali todos aqueles livros a olharem para nós e nós a olharmos para eles, num volteio ora tímido ora atrevido, cortejando-nos e tocando-nos, divididos entre os desejos, as necessidades e os poucos meios, aquela dança de vontades e de recalcamentos, o tropel de sentimentos de entusiasmos e pena, a luxúria de ter e a fantasia de ver, e de repente percebemos que nos estão a oferecer um livro, comprado ali expressamente à boca da caixa, fumegante de amizade pura e gorgorejante de satisfação por dar. E não é um qualquer livro é o livro instantes antes visto e no mesmo momento deixado para trás, o livro que abandonáramos e ele a olhar para nós, com mágoa e muita pena a pedir leva-me contigo, não me deixes que me dói a solidão de ficar aqui, livro por ler, no meio de todos os outros. Pudesse eu trazia-os todos. Assim trouxeram-me com este para a luz solar de um dia que ameaçava chover.