Durante uns meses mantive no Jornal de Negócios uma crónica. Atenção: o Luiz Pacheco também! Esta noite encontrei uma delas em que «ainda a propósito de Afonso Lopes Vieira escrevi: «lembro-me de um episódio contado por João Gaspar Simões no seu livro “Retratos de poetas que conheci”, saído com dedicatória a Manuel Poppe, em 1974. O monárquico Paiva Couceiro havia sido preso pelo regime político que o autor de “Onde a terra se acaba e o mar começa” mais desprezava. Surpreendendo apenas quem o não conhecia, aquele cuja aparência de “piruteante anefim” – as palavras são de Gaspar Simões – iludia quanto à sua viril coragem cívica, não hesitou. Afonso Lopes Vieira “de malinha aviada se apresentava na esquadra de polícia onde Couceiro fora arrecadado, e atrevido perguntava à sentinela: - É aqui que se prendem pessoas de bem?”. Por um triz tornaria dessa feita verdadeiro um verso seu cáustico e premonitório e de que fez orgulhosa bandeira: “o poeta português que não passar ao menos uma vez pelas prisões, não será digno aluno de Camões”». Foi em Setembro de 2003 aquele meu escrito. Como o tempo voa!