Já tinha falado dele. Voltei às suas páginas. Estive em Macau quando se lançou o bilinguismo como política oficial para que a língua portuguesa perdurasse na Administração chinesa, após 1999, língua oficial ao lado do chinês. Forçou-se a barra a preço de ouro. Na altura nem os polícias na rua compreendiam português. Nos táxis batiamos no ombro direito ou esquerdo do motorista sinalizando-lhe para onde virar, o destino escrito em papelinhos em caracteres que pareciam gaiolas de passarinhos mas eram hierogrifos.
Terra de maledicência mesquinha, um espírito irrequieto apodou de bifidismo essa tentativa de pôr toda a gente a falar duas tão distantes línguas. Dos portugueses só uns tantos poucos se deram ao esforço. Enfim havia os intérpretes.
Terra de maledicência mesquinha, um espírito irrequieto apodou de bifidismo essa tentativa de pôr toda a gente a falar duas tão distantes línguas. Dos portugueses só uns tantos poucos se deram ao esforço. Enfim havia os intérpretes.
Sentia então por ouvir dizer o esforço que para aquelas crianças chinesas significava aprenderem o cantonês local, o mandarim oficial, o utilitário inglês e o impingido português.
Natividade Ribeiro ensinou em Macau durante vinte anos. Escreveu um livro frágil de sensibilidade, um livro que se esfarela entre os dedos, porcelana literária. A sua personagem, Ana Costa, sofre em Macau o amor de ali viver, «num lugar onde as pessoas viviam num mundo de paralelas infinitas», ensinando português a alunos para quem isso era «uma língua inútil para as suas vidas».
Uma edição de Livros do Oriente, dirigida por Beltrão Coelho. Magnífico.