Vasculhei o céu e a terra porque sabia que tinha o livro; encontrei-o, enfim, mal arrumado, na estante onde estão as biografias. Não o é, mas sim uma história de amor, magnífica porque invulgar, o encontro do inesperado e a dedicação estremosa.
Ele estava na fase final de uma vida dedicada à causa pública, exilado, mal tratado, acolhido apenas por poucos dos milhares que o aplaudiram e lhe viravam agora as costas. Entregou o seu esgotado coração nas suas mãos requintadas. A distância não foi óbice.
Do seu encontro nasceu o enamoramento e o lirismo de uma correspondência que é, no dizer do marido dela, a de verdadeiras «cartas de amor». E de amor se trata, pungente, em lírico devaneio.
O livro inicia-o com a morte dele, com a insuportável dor, com a funda saudade. Segue ao longo do ano de 1985, como se num diário que lhe dedicasse, como se não estivesse interrompida a conversa, como se o procurasse, ansiosa, para lhe contar.
Ela chama-se Maria Helena Prieto. O livro toma como título "A Porta de Marfim". Ele chama-se Marcelo Caetano.