Quando fiz anos o meu Hugo ofereceu-me O Bibliófilo Aprendiz de Rubens Borba de Moraes, numa edição da Letra Livre, com um texto de apresentação do estudioso e erudito Pedro Teixeira da Mota. Ontem a minha Zé tinha à minha espera a surpresa de O Crime do Padre Amaro, que faltava na minha queirosiana e que teve o carinho de adquirir na edição crítica organizada por Helena Cidade Moura, e publicada pela Lello em 1964. Nela se compilam as três versões que o livro conheceu, a assassina descuidada e sem revisão de provas pelo autor, de 1875, a segunda, paga pelo pai de Eça de Queiroz porque o editor não arriscava e que ele prefaciou de um ignoto lugar que ali se diz chamar «Akenside Tewace», mas que é gralha porque se trata de Akenside Terrace, em Newcastle, onde Eça desempenhou funções de cônsul [como se pode ver aqui], e a terceira em que o criador do Conde de Abranhos se defende da vil acusação de que copiara para o livro a ideia se não o conteúdo do livro de Émile Zola, La Faute de l'Abbé Mouret.
Eis entre um livro e outro e uma gripe homicida que resolveu reduzir-me à insignificância do desprezível.
«É aos psicanalistas que se deve perguntar porque se colecciona», escreve Borba de Moraes. Eu não colecciono, gosto de ler. Quando gosto sou insaciável no gostar. É uma viuvez da alma não ser gostado.