Voltei hoje, dia de magnífico Sol, enfim Sol!, de uma passeio, e há tanto tempo o não fazia naquela regular ida de Sábado à Rua Anchieta e ali aos livros.
E trouxe livros. Raramente sucedeu não trazer livros. Entre eles, hoje, as Poesias de Mihail Eminescu. Com ele agora as memórias fluem, chamativas, ao trazê-lo os acontecimentos irrompem, invulgares. Tenho-o pela segunda vez, um outro exemplar, em melhor estado emprestei-o a quem o apreciaria no original. E escrevera aqui sobre ele.
Publicada em 1950, esta edição bilingue comemoraria o centenário do poeta nacional romeno. Os trabalhos haviam começando, porém, muito antes: à tradução inicial de Rogério Claro iniciada em 1944, sucedeu a revisão aturada e paciente de Victor Buescu e Carlos Queiroz, trabalho de companheirismo, dedicação, minúcia. A edição, a cargo da Editora Fernandes, sita no Largo do Rato, em Lisboa, sairia com um texto de introdução à vida e obra do poeta a cargo de Mircea Eliade; iniciado, como este o confiou e fui verificar agora, ao seu Diário Lusitano, a 6 Setembro de 1942, escrito nesta sua casa na Avenida Elias Garcia, onde viveu a agrura existencial que foi a sua passagem por Lisboa durante a Segunda Guerra.
Há entre o poesia de Eminescu e o pensamento de Eliade pontos de convergência, talvez por isso ele os acentue no que escreveu: tentação da morte, esperança da reintegração na Natureza-Mãe, carácter indómito das paixões, a ânsia da serenidade e o amor patriótico à Roménia natal.
Mundo pequeno este, porém. Ao terminar a manhã, correu o almoço por um modestíssimo restaurante na Travessa do Duque, ali ao Carmo, um dos que ainda não foi devorado pelo turismo. Local acanhado, a mesa larga partilhada com operários: amáveis, um deles romeno, outro declarou-se moldavo. Curioso destino da História, afinal a mesma língua, dois Estados que já foram um mesmo País talvez por serem uma só Nação.