sábado, 16 de fevereiro de 2019
Eminescu: um dia de sol
Voltei hoje, dia de magnífico Sol, enfim Sol!, de uma passeio, e há tanto tempo o não fazia naquela regular ida de Sábado à Rua Anchieta e ali aos livros.
E trouxe livros. Raramente sucedeu não trazer livros. Entre eles, hoje, as Poesias de Mihail Eminescu. Com ele agora as memórias fluem, chamativas, ao trazê-lo os acontecimentos irrompem, invulgares. Tenho-o pela segunda vez, um outro exemplar, em melhor estado emprestei-o a quem o apreciaria no original. E escrevera aqui sobre ele.
Publicada em 1950, esta edição bilingue comemoraria o centenário do poeta nacional romeno. Os trabalhos haviam começando, porém, muito antes: à tradução inicial de Rogério Claro iniciada em 1944, sucedeu a revisão aturada e paciente de Victor Buescu e Carlos Queiroz, trabalho de companheirismo, dedicação, minúcia. A edição, a cargo da Editora Fernandes, sita no Largo do Rato, em Lisboa, sairia com um texto de introdução à vida e obra do poeta a cargo de Mircea Eliade; iniciado, como este o confiou e fui verificar agora, ao seu Diário Lusitano, a 6 Setembro de 1942, escrito nesta sua casa na Avenida Elias Garcia, onde viveu a agrura existencial que foi a sua passagem por Lisboa durante a Segunda Guerra.
Há entre o poesia de Eminescu e o pensamento de Eliade pontos de convergência, talvez por isso ele os acentue no que escreveu: tentação da morte, esperança da reintegração na Natureza-Mãe, carácter indómito das paixões, a ânsia da serenidade e o amor patriótico à Roménia natal.
Mundo pequeno este, porém. Ao terminar a manhã, correu o almoço por um modestíssimo restaurante na Travessa do Duque, ali ao Carmo, um dos que ainda não foi devorado pelo turismo. Local acanhado, a mesa larga partilhada com operários: amáveis, um deles romeno, outro declarou-se moldavo. Curioso destino da História, afinal a mesma língua, dois Estados que já foram um mesmo País talvez por serem uma só Nação.
domingo, 10 de fevereiro de 2019
A cura pela leitura
Comprei-o em Itália, creio que em 2007, o ano em que foi editado. Li-o então e reli-o agora. Mais do que um incentivo à leitura é o que uma frase sua resume: «Piuttosto che diventare schiava del Librium mi prendo un libro». A recusa da obsessiva química farmacológica, trocada pela física das páginas de um livro.
A Biblioteca é uma farmácia da alma, porque cura, a seu modo, todas as neuroses. «A infelicidade dos personagens famosos é um lenitivo para a nossa infeliz sensação de inferioridade», escreve o autor num dos seus momentos de encontro com a panaceia que a leitura traz. «E così, leggendo prima di dormire uma favola o un breve, poetico racconto, siamo in grado di neutralizare de piccole infelicità di un'intera giornata».
Porque cito em italiano? Porque lida a bula de tão suave medicina, macia enquanto homeopática, na língua de Italo Calvino, nasce, acariciante, o desejo de nos rendermos à terapia. «Chi non legge há un'anima anoressica».
Miro Silvera nasceu em Aleppo-Síria a 22 de Maio de 1942. Vive em Milão desde os cinco anos.
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