Muitos conhecem Ferreira de Castro, embora Ferreira de Castro comece a deixar de ser facilmente legível. Fala de um tempo que já não há. De um Portugal em que os Emigrantes éramos nós.
Hoje, à literatura do efémero só resiste a literatura da intemporalidade. Ora para a descobrir nele, com a Eternidade e nela a insone condição humana, e preciso lê-lo. E estão a deixar de o ler.
O que muitos não sabem, porém, é quem foi a mulher de Ferreira de Castro. Escreveu como «Diana de Liz», chamava-se Maria Eugénia Haaz da Costa Ramos. Multiplicou-se em escritos na imprensa, esvaiu-se em dispersos.
Nasceu em Évora, como Florbela Espanca, morreu em 1930, o ano em que Florbela morreu. Viviam juntos há cinco anos. Nesse ano o escritor publicara A Selva.
Ela foi, disse-o Jaime Brasil, sua «companheira, mãe e irmã».
Estive em tempo com o livro póstumo que, desesperado por tê-la perdido, seu marido fez editar, em 1933, pela Guimarães: Memórias duma mulher da época. Talvez o não consiga ler, a «psicologia da época» a diminuí-lo, eivada de moralismos, mesmo quando tolerante para com a audácia amorosa. Um mundo em que a frivolidade esconde a generosidade de um coração insensato, ansioso de dar.
O que me tocou no livro é ele não ter grandeza de estilo, nem densidade de análise e, no entanto, ver Ferreira de Castro, laureado, prestigiado, senhor já de si e da sua obra, com o coração dilacerado, a dedicar-se, desveladamente, para que aquela que começara a «contemplar a vida no milagre e no pavor de toda a sua extensão» pudesse ver a luz.
Ele foi o homem que, estando a morrer, considerara traição ter-lhe sobrevivido. Em 1938 casaria com a pintora Elena Muriel.