sábado, 27 de maio de 2006
A escrita automática
Ao tentar explicar isto aqui escrevi assim: «A Janela do Ocaso» é o meu eu intimista e literário, o ser ledor e reflexivo que vê a vida através do teatro de sombras chinesas que na escrita se project». Como é costume a frase saiu-me, espécie de escrita automática de que me surpreendo ao lê-la. E, no entanto, as contingências da vida empurraram o ser ledor para o saguão escuro em que só há o ser escritor. Prisioneiro de si, esse ser funciona por reflexos, espécie de bolbo raquidiano que comanda apenas o modo, a forma, a concordância verbal. Tudo o mais, como se testamento de morto, está escrito. Povoado de sombras, limito-me a escrevê-lo tal como se o estivesse a ler.