sábado, 9 de junho de 2018
José Régio: fotobiografia reeditada
Tinha conseguido já a edição de 2002, publicada conjuntamente pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda e pela Câmara Municipal de Vila do Conde, escrita por Isabel Cadete Novais. Hoje a Feira do Livro trouxe-me a segunda edição, de 2017, editada pelo Centro de Estudos Regianos, sob o patrocínio da Câmara Municipal da sua terra natal, vindo à luz a 17 de Setembro de 1901.
Melhoria substancial. Capa bem mais apelativa, tal como na anterior com destaque para uma fotografia do biografado, mas desta vez naquele facies em que o reconhecemos, enriquecida com encartes a cor, compensando a ausência de cor no miolo que valorizava a primitiva edição, abre com prefácio de Miguel Real que nos apresenta José Régio, tal como Pessoa e Teixeira de Pascoaes como «um dos grandes solitários da cultura portuguesa do século XX». Solitário, prossegue Real, pois que «criador dos fundamentos teóricos e dos métodos expressivos da sua obra», solitário porque «imune aos modismos estéticos nacionais e internacionais». E mantém o texto introdutório de Eugénio Lisboa, a quem a divulgação do seu nome e obra tanto devem.
José Maria dos Reis Pereira, que em Literatura ficou como José Régio, corre a maldição de ser para cada vez menos. Pressente-o no verso que no livro se copia: «Morro conformado/Mas só eu sei quanto/Me não tem custado//Há tanto lhes canto/Para ser ouvido/E E ao fim desse tanto/Sou desconhecido». E viveu devorado por essa angústia, fome de ser amado.
Trata-se de uma escrita muito íntima mas em que a fronteira do privado só é trespassada por sugestão diáfana. Mesmo o seu Diário, um dos volumes da Obra Completa que, em excelente hora a Imprensa Nacional editou, não revela mais do que o necessário, ficando no exacto ponto em que a sensibilidade do leitor havia intuído. E, no entanto, escrita de um cidadão interventivo, que firmara as listas do MUD oposicionista ao regime político então vigente e pagara com cortes da Censura a ousadia. Mas cuja delicadeza de carácter lhe permitiu sempre o equilíbrio e uma significativa segurança, não fosse a insegurança interior, em angústia permanente, a neurastenia do isolamento, professor liceal exilado em Portalegre, tendo como companhia o escasso meio de camaradas das letras e companheiros de ideais.
Eis o livro.
Comparando em breve folhear ambas as edições nota-se que nesta se amputou o capítulo «O Escritor Não Morre». E assim não encontro nesta algumas das imagens da anterior, como a da visita de Marcello Caetano quando visitou a Casa Museu em 1971, mantendo-se embora, em assimetria de critério a do Presidente da República, Américo Thomaz, quando visitou a casa em 1966.
Do mesmo modo uma fotografia em que a ele se juntavam Vergílio Ferreira e Eugénio de Andrade não a encontro agora.
Trata-se, pois, em sentido próprio, de uma segunda edição, revista seguramente.
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