terça-feira, 8 de agosto de 2006
A modos de que
«Hoje todo o cuidado com os homens é pouco. E mesmo com as mulheres, que já andam ao mesmo», dizia ela, uma vulgar criatura, meia-idade indefinida, alombando sacos de plástico, chanata a arrastar, vinda com outra do mini-mercado, atulhada de mercearias gordas e bebidas adocicadas. «Sim, o parvalhão, a ver-me sozinha na estrada e a oferecer-me boleia, a abrir o vidro do carro, a abrandar a marcha, o metediço, filho de uma grandecíssima vaca. «E tu conhecia-lo, Maria?», inquiria a companheira, magricela de ressabiada, repartindo a carga dos víveres, um garrafão água em cada mão, o jornal amarfanhado debaixo do sovaco suado. «Ora se conhecia. Então não se conhece logo pelos modos! E com as gajas é o mesmo, que já andam desenfreadas ao ataque que ainda outro dia uma...». Foi hoje de manhã. Separámo-nos numa esquina da rua. Eu redobrado de cuidados, não vá toparem-me pelos modos, assim a modos de que.