terça-feira, 22 de agosto de 2006
O mundo oblíquo
Leo Tolstoi tinha como hobby fabricar sapatos, nos intervalos de uma extensa e intensa escrita. Vivia com modéstia, numa das suas casas servido por dez criados. Dostoievsky sofreu na Sibéria a cadeia e o exílio e definhou, esvaindo-se em literatura. O primeiro vivia o problema da mística, o segundo o da angústia dos homens. Cada um deles tem as suas casas evocativas, a do segundo uma casa de esquina, como a de tantos dos seus personagens. Gorki também teve casa, oferecida pelos sovietes mas, como se simbolicamente, está encerrada para obras. Falta quem? Faltam tantos! Maiakovsky, por exemplo, oblíquo, vanguardista, provocador, suicida. No meio das suas vidas surgiu o tumulto dos engenheiros de almas, o anseio do homem novo. Hoje já nada sobeja. Numa das portas do Kremlin está o símbolo da Rolls-Royce, talvez por causa do carro luxuoso usado por Lenine, a bandeira do proletariado. Quantos milhões deram a vida por tudo isto. O motorista que nos conduz benze-se ao passar em cada Igreja. Hoje, já só o próprio Deus o poderá surpreender.