quarta-feira, 25 de outubro de 2006
Pomposamente serventuário
Hoje de manhã olhei para ele. Parece que interrompi a sua leitura há uma eternidade, encarcerado que estou na colónia dos trabalhos forçados. Fui buscá-lo, arrrastando-me para o canto da mesa onde, paciente, me esperava. São assim, silenciosamente disponíveis, nossos amigos, os livros. Abri na última crónica que lera, texto risonho, de uma malícia inteligente, uma escrita refinada. Nela falava-se no «affaire» que «a mãe» tivera há muitos anos com um cangalheiro de Delft «cuja empresa enterrava nessa altura metade do País Baixo e tinha infra-estruturas para enterrar o resto». Graça estava, porém, no lema do seu amante gato-pingado, que podia ser o meu nos dias actuais, os de desespero serventuário: «tudo no fúnebre, nada nas pompas!». São os «Bilhetes de Colares», daquele que os assinou como A. B. Kotter.