quarta-feira, 25 de abril de 2007
Refastelado na otomana
Cansado, esgotado e exausto, dia feriado é oportunidade para dormir impunemente, horas a fio. Acorda-se com a boca azeda das obrigações por cumprir, a cabeça pesada pelo agora como vai ser. No intervalo fui ao IKEA comprar uma cadeira para a secretária do meu rapaz. Estonteados entre as filas volteantes de compradores, insectos alados hipnotizados pela luz do consumo, ali um organizado casal media rígidas estantes para os livros encadernados do Círculo, aqui umas desajeitadas jovens apalpavam fofas almofadas para espalharmos pelo chão, diziam, ao fundo da loja, refastelava-se uma avózinha em otomanas para da marquise se fazer mais um quarto, quando vierem os netos a visitá-la.
Aos tropeções, vivi a tragédia adolescente do candeeiro com ou sem luz e halogénio. A meu lado, uma quarentona e muito, mamã tardia, perguntava-me qual a diferença entre dois focos para mesinha de cabeceira. «Acho que são iguais», respondi-lhe por não conseguir acertar na diferença. «Não faz mal, vai este, que, para o que é, tanto serve», retorquiu-me, pegando num a esmo.
Foi aí que vim dormir até às cinco. Como é para esquecer, tanto serve também.