sábado, 14 de julho de 2007
O hóspede
Ter tantos sítios onde se pode escrever, não quer dizer que se escreva. Às vezes é a falta de tempo, outras a de paciência, muitas vezes o querer falar pelo silênciao.
Ainda por cima um ser humano não se esgota numa profissão, numa militância cívica, mesmo numa vivência filosófica. Sobeja às vezes pessoa dentro do indivíduo.
Aconteceu assim.
Estou, em intervalo do meu viver, num magnífico lugar, casa antiga que hoje sobrevive à conta do turismo de habitação. Casa de memórias acumuladas e poupadas, casa de delicadeza sóbria, de vida experimentada. Local de enamoramento de um casal que a vida não separou. Casal onde se lembram os dias dos aniversários natalícios, dos casamento, as datas da formatura, de nascimento dos filhos e do baptismo dos netos.
Acordo e sinto o passado como se presente estivesse e pesa-me então a lástima do que é uma vida desagregada, um hópede que adopta o calor de uma família alheia, os ecos dos seus risos, a sua angústia ante o futuro, como se fossem os seus, à falta de mais alguém.