sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Criaturas embiocadas
Gente do Algarve, gente que acredita que há quem leia o que vale a pena ser lido, foi buscar a um conto de Manuel Teixeira-Gomes, o nome para uma editora. Chama-se «Gente Singular». Eu e o texto éramos então uma mesma alegria.
Na página 17 já o narrador, saído da casa de Monsenhor Romualdo Simas e suas três irmãs Sebastiana, Prudência e Faustina, «criaturas embiocadas em lenços negros», se acoitara num pensão, ouvindo da «língua horrorosa» do Dr. Ximenes sobre o conservador da comarca de Faro que «tinha palavras de semana santa e obras de Entrudo», do Pedro Carneiro, escriturário da Fazenda que, sedento das «lindas moiras» se embrulhara na ideia hipnótica dos amavios de uma sultana a tal ponto que, aproximando-se da cama do que julgava ser uma noite no serralho, «sem acender a luz para mais apimentar os preâmbulos da aventura», se cruzara no ansioso palpar com o Celestino, sua voz grossa e sabe-se lá o quê de inesperadamente pronto.