segunda-feira, 7 de setembro de 2009
The Old Man and the Sea, de Ernest Hemingway
De que é que uma pessoa se lembra de um livro quando não tem o livro consigo? Que histórias ficam quando o livro conta uma história, que pensamentos restam quando se sublinharam nele momentos em que se parou para reflectir? Que nomes de personagens que nos sejam familiares, que lugares referidos mesmo quando são conhecidos?
Recorda-se de um livro uma descrição que tenha impressionado como a de um instante da vida ou de um recanto da terra, a de um fantasioso sonho ou de um improvável pesadelo? Transmite-se de um livro para o seu leitor um sentimento, uma convicção, um credo? Fica um livro como uma recordação de um momento vivido, como uma nostalgia de não nos conseguirmos recordar, mesmo quando foi bom?
Conseguirá um livro fazer-nos dizer que está tudo lido como uma morte que nos diga que tudo já foi vivido?
Esta madrugada acordei a pensar em O Velho e o Mar do Hemingway. O livro não tem história nem lugar nem tempo nem modo. É um enorme intervalo de silêncio. Fala de um homem e um peixe e entre eles a infinita espera que gera a eternidade do amor. Meter no meio de tudo isto o Prémio Nobel da Literatura é um ridículo que só insulta aquele prolongado instante em que o belo se chama paz. Apenas isto e mais o sol, a lenta caminhada para a depredação total, o clímax em que apenas a agonia é memória, a pescaria lenda. Foi escrito em Cuba, em 1951. Tenho-o, mas não aqui. Li-o em busca desse improvável momento final, até perceber que nele cada momento é o começo de si próprio, a perseverança o motor da grandeza monótona de uma longa espera sem esperança.