quinta-feira, 7 de setembro de 2006
A grilheta do dever
Havia no Jardim Zoológico um elefante que a troco de uma moeda tocava um sino. Ensinado, recusava, jogando-as fora, as moedas escuras, só aceitando as prateadas. Os miúdos riam a bandeiras despregadas. Amarrado ao inferno de ter ganhar assim o que lhe davam para comer, o animal metia dó. De vez em quando soltava aquele som lúgubre, de aflição, como se lhe faltasse a naturalidade do seu mundo ao qual o haviam raptado. Lembrei-me dele esta noite e do sentimento de profundo desapontamento irritado dos meus pais ante a minha tristeza. Acho que já morreu, ou pelo menos matei-o na minha memória, esgotado de ter pena.