terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
O café dos livros abandonados
Estive hoje a olhar para eles: uns lidos até metade, outros à espera que eu os leia. Poucos, muito poucos, aqueles que nunca lerei. O Jorge Luís Borges metia em sacos os livros de que se queria ver livre e abandonava-os, como se perdidos, nos cafés. Claro que muitas vezes lhe acontecia aparecer-lhe o empregado do café, solícito, a devolver-lhe os livros, pensando que, distraído, se tinha esquecido deles. Como se sabe o Borges ficou progressivamente cego e imagino que esta cena sucederia na altura em que ainda conseguiria ler alguma coisa. Comigo, sou eu o empregado do meu café dos livros abandonados. Hoje apareci-me [este verbo tem de ter, para que eu seja feliz, a forma reflexa, diga o que disser a gramática!] com o João Miguel Fernandes Jorge e o seu livro de poesia «Termo de Óbidos». Tinha-o lido, como tantas vezes faço, de trás para a frente, sublinhando aqui e além. A última linha anotada dizia as «letras impressas guardam para nós a escrita».