segunda-feira, 21 de julho de 2008
A criada
Eu sei que há sentimentos feitos de embirrações. Com o Borges comecei por embirar com ele, como já confessei aqui, até começar a lê-lo e descobrir-lhe, na sua língua de origem, a genialidade. A razão é simples: eu considerava insuportavelmente petulante e cretinamente peralvilho um colega meu que enchia de Borges a boca. Foi um caso de rancor trespassado.
Agora descobri que tinha transferido, irracional, a embirração para a viúva do Borges. Ao ler a revista Os Meus Livros que, maliciosamente, os argentinos lhe chamavam «la viudissima», rejubilei, os maus fígados purgados. Eu sei que é maldade, mas é a conselho médico. E que querem? Prefiro a criada do Borges, pronto!
É que, vinte anos depois, ver o notável autor às mãos de advogados e de processos, de testamentos controversos e daquela executora testamentária é de morrer, iletrado e sem direitos de autor.