quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
O primeiro violinista
Foi só porque a televisão, entre tantos defeitos, permite captar soberbos momentos que isto foi possível. Foi esta noite no canal «Mezzo», Cecilia Bartoli, com uma ária da ópera de Mozart, Don Giovanni. Segura, sem excessos de afirmação vocal, progredia em sonoridades densas, os imensos olhos negros como se cravados no infinito da glória. Foi então que, o surpreendi, aplicado no seu frágil e desconcertante instrumento musical, esse prodígio da criação melódica, o primeiro violinista, desconcentrar-se por um momento, seduzido por aquele voz. Socorreu-o, nesse silêncio comprometedor, todo o naipe de cordas em seu redor. Naquele segundo, os olhos marejados de lágrimas, ele era, apagando-se como artista para assim contemplar, extasiado, a própria Arte, a imagem real do que é o amor.