domingo, 26 de fevereiro de 2006

Borges, sem porquê

Ando a reconciliar-me com os meus preconceitos, alguns muito estúpidos, quase todos irracionais. Um deles foi detestar, sem saber porquê, o Jorge Luís Borges, sem nunca o ter lido, recusando-me a lê-lo, entretendo-me em irritar-me logo aquela sua figura, talvez porque de Saramago, ou pela María Kodama, sua eterna bengala. Não sei!. Confesso agora aquilo que sei me envergonha, a infâmia de nem tudo em mim ser inteligente, nem belo, nem motivado por nobres razões. A controvérsia de mim comigo mesmo, que se passa toda na minha cabeça e me salga, corroendo-mo, o coração, é isto mesmo. Mas há uns dias decidi-me. Estou extasiado!. Tive a sorte de começar por um estudo filosófico sobre a eternidade, cuja leitura compartilho com a «Biblioteca Pessoal». É o mundo da palavra maravilhosa, das ideias surpreendentes. Não sei como tudo isto aconteceu em mim. Leio-o agora ao Borges, devoradamente. «La rosa es sin porqué», escreve ele, citando Angelus Silesius, que nasceu em 1624. Tantos séculos se volveram sobre esta palavra, poderia ter sido escrita esta manhã.