sábado, 11 de agosto de 2007

A piedade de Deus

Vaidoso, senhor de si, barroco no estilo, petulante mesmo na forma, Hermano Saraiva está a deixar um legado invulgar sobre a visão do Mundo e da sua pessoa. Nos fascículos em que nos conta, dispersas, as suas memórias, são os pequenos momentos que me atraem e me prendem à leitura.
Como naquela escrita, tão íntima e sentida, perpassa o amor que ele nutria pelo irmão António José, que lhe ganhou a dianteira no caminho para a morte!
Ei-lo, ante o Panteão em Roma, a sentir-se capaz de ali mesmo, ante aquelas gigantescas colunas, rezar e a recordar que aquele que era carne da sua mesma carne «não rezaria em nenhum altar. Nunca estava contente consigo próprio. Pensava e rasgava o já pensado».
A um homem destes, falho de fé, só lhe vale a piedade de Deus, se Deus o não abandonar, misericordioso e contristado pela sua alma.
Hoje é sábado, continuo a ler, tal como ele na Piazza Navona: «tenho o sentimento de que não sou eu que estou na praça, é a praça que está em mim».