sábado, 4 de agosto de 2007

Afinidades

Trouxe comigo, entre outros, um dos livros do Wenceslau de Moraes que não consegui acabar de ler durante os últimos meses, «Os Serões no Japão». São apontamentos, menos do que crónicas, mais do que notas. Um deles, queontem li, abre com uma anedota a de um velho juiz que, a julgar um caso de bigamia, e ao não se lembrar que pena cabia a tal crime, segredou ao colega a pergunta respectiva, obtendo como resposta que a pena era «ter de aturar duas sogras».
Como, nos termos da lei, as afinidade se não quebram com os divórcios, quem casou muitas vezes com ex-casadas, vulgaridade neste mundo moderno em que os casamentos se numeram, está condenado a mais uma infelicidade desse seu atribulado passado conjugal. Qualquer que seja a ex- para que se volte houve-a falar «na minha sogra», querendo dizer a mãe do outro. Depois uma pessoa habitua-se a que aquilo não tem sintomaticamente a ver consigo. Ao menos, nesse linguajar doméstico, algumas viúvas, que se vão pela lei da morte libertando, estão mais defendidas, porque se referem sempre ao «falecido que Deus haja». Algumas acrescentam «e que a terra lhe seja leve, apesar de tudo». O dito, esse, não passsa pelo embaraço de ouvir.