sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Se uma gaivota voasse

Estive esta tarde no museu do mar em Ílhavo para descobrir o que é a solidão de um um homem, na pequenez entorpecente de um «dóri», o mar gélido como presença, um fio de pesca como esperança, a dura faina pesqueira como ganha-pão.
Foram heróis, na Terra Nova, esses nossos portugueses, escravos marítimos, salgados nas entranhas, como os bacalhaus que pescavam.
Etimologicamente a palavra «dóri» provém de dor, da dor sentida, para além dos ossos e nos confins da alma. Afogada em aguardente, nas saudades de casa, no contido desejo de voltar.
Sente-se hoje o cheiro do pescado salobre, a caminho do Cais do Sodré, na Rua dos Bacalhoeiros, impregnado na cal das paredes, ida que foi a frota de pesca, perdidos os barcos, recolhidas as velas, ancorada uma vida em terra, como gaivota entristecida sem céu para voar.