domingo, 13 de janeiro de 2008

O sentimento do reflexo

Trouxe-os de Itália, os que encontrei, livros de Italo Calvino. Esta manhã de chuva peganhenta levei um deles comigo, a «Collezione di sabbia», por ser pequeno, por ser leve, caber-me na persistente pasta e poder fazer-me companhia, sem peso ou excesso de presença.
O título deve-se a quanto impressionou o autor, numa exposição de coleccionismo em Paris, ter-se deparado, de entre tão diversos objectos arrecadáveis, de selos a caricas, o trivial dos armazenistas açambarcadores do vulgar, catalogadores do acumulado, frascos de areia das mais diversas partes do mundo, diferente na textura, na consistência, na cor e na maciez, como se epiderme fosse cada uma da terra remota de onde proveio.
Cheguei agora a casa para escrever sobre o que li. Há no livro um capítulo sobre o Japão e neste um artigo em que se diz que viajar serve para reactivar o uso dos olhos, é uma leitura visual do mundo, ver assim o que não se via, distinguir o indistinto
Li e vi que o amor pela lua se confunde muitas vezes com o amor do seu reflexo.