terça-feira, 17 de junho de 2008

Historietas ao jantar

Quanto se janta sozinho um livro ajuda, para se não parecer tão sem ninguém. Ao sair de casa para ir aqui em frente jantar olhei para eles todos, os livros na estante, como se a convidá-los para jantarem comigo. Fui com o Jorge Luís Borges, ou melhor com um livro de historietas que foi escrito a partir de testemunhas da criada do Jorge Luís Borges. Já tinha começado a lê-lo e odiei-o então, talvez por ser a visão de quem vê o génio em roupão e chinelos, na pequenez dos seus maus humores, nos cheiros familiares, nos segredos que se escondem por detrás das janelas públicas. Desta vez tentei começar a lê-lo a partir do fim, enquanto negava o queijo e o presunto, porque não posso abusar do sal, e quando vier a sobremesa diga-me se tem fruta, porque não devo exagerar nos doces. «O que é realmente bom na minha vida de escritor é que as pessoas compram os meus livros, mas não os lêem», disse o autor de Aleph. Estive para interromper com um «com a devida consideração, eu leio, enquanto como pampo grelhado!». Ingrato! Da próxima janto com a criada!