segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Personagens

A universalidade da ideia de contar uma história possível chama-se ficção. A particularidade que faz ver na possibilidade dessa história uma realidade chama-se vida. No fundo é assim. Vivemos todos os dias uma vontade de que as coisas sucedam de modo imaginário. Quando, ante o sucedido, a alma nos sorri, chamamos a isso felicidade. Quando se nos esgota a imaginação, e já nada se recria, os outros julgam que morremos. Para tornar isso verdadeiro, fechamos os olhos e entramos em rigidez cadavérica. Nos registos oficiais abatem-nos ao efectivo. No círculo dos sentimentos privados vão ocupando o nosso lugar com outros frutos da invenção. Há os que deixam livros de memórias, forma de escaparem à menoridade através da grandiloquência. Outros ficam soterrados como personagens de histórias indecentes, forma de se rirem todos da moralidade e suas maçadorias. No meio disto há os que contam. Por eles, lágrimas de saudades imediatas, lembranças risonhas, a paz enfim de renascerem, inesperados, nos nossos corações.