sábado, 16 de maio de 2009

Um moço que já morreu

Muitos conhecem-no como ministro dos Negócios Estrangeiros do anterior regime político que caiu com o 25 de Abril. Tantos reconhecem-no como o autor do monumental Salazar que ainda é das melhores biografias que se escreveram sob o o homem que governou Portugal, para o mal e para o bem, durante cinquenta anos. Fui descobri-lo neste seu livro de crítica literária. Editou-o a Portugália em 1954. Talvez por lhe conhecer do pensamento político a faceta conservadora fui ler o que dizia sobre Carlos de Oliveira. Imaginar-se-ia distante, frio, crítico do envolvimento social do seu autor, apto de desmontar-lhe qualquer momento em que lhe surpreendesse o panfleto, a militância, sabido como é que o autor de Pequeno Burgueses entroncou na aguerrida família do neo-realismo onde pontificava tanto proselitismo e todos da Oposição ao Estado Novo. Nada disso. Sereno, honrado, Franco Nogueira rende-se ao rasgado elogio. Estuda a Casa na Duna, analisa o Alcateia, disseca Uma Abelha na Chuva. E termina, depois de semear mimos: «Se o ritmo da carreira literária de Carlos de Oliveira não for quebrado ou desviado, o romance português poderá contar mais um dos seus raros e grandes cultores». Ah! grandeza humana.
P. S. O exemplar que tenho encontrei-o num alfarrabista. Traz ainda uma amorosa dedicatória manuscrita em esmerada caligrafia: «Para a querida Luizinha esta recordação longínqua de um moço que há muito já morre, esta lembrança de uma velha pedra da calçada que se agita, esta oferta sem expressão nem mérito que no entanto simboliza tudo, of. do Alberto»