quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Império, de Henrique Galvão

«Há dez anos - exactamente quando a Europa começava a debater-se entre as mais escuras dificuldades da desordem política e social - um Homem de raro equilíbrio e profundo saber, um Homem capaz de agir como órgão de acção e de pensar como órgão de ideias, restaura a vida portuguesa, desperta as virtudes adormecidas deste povo, refaz uma doutrina, reconstitui uma força e encaminha de novo Portugal para o cumprimento da sua Missão, no rumo glorioso da sua finalidade histórica: Salazar».
Quem escreveu este panegírico do Chefe? Num opúsculo editado pelo SPN, o Secretariado da Propaganda Nacional? Seguramente uma figura do regime, um seu prócere: Henrique Galvão! Uns anos depois a irrequieta criatura passar-se-ia para o outro lado e entraria na História ao liderar o assalto ao navio Santa Maria, da Companhia Colonial de Navegação. Conquistou assim direito à amnésia de alguns sobre esta parte antecedente da sua biografia.
Escritor prolífico, recolho na Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian a lista dos seus livros. Muitos sobre África. Bastantes bem escritos.
A volubilidade de carácter e a riqueza literária associam-se por vezes nesta língua dúctil e maleável, feita de condicionais e de pretéritos mais do que perfeitos.
É verdade: a citação pertence ao opúsculo, como disse, chamado O Império, sem data, mas talvez tirado em 1938.