terça-feira, 22 de setembro de 2009
A Ilha de Moraes, de Paulo Rocha
Entre 1975 e 1983 o cineasta Paulo Rocha foi adido cultural na Embaixada de Portugal em Tóquio. Não sabia. Estudou a obra de Wenceslau de Morais, o que foi tema em 1982 da sua longa metragem A Ilha dos Amores, em que Rocha protagoniza Camilo Pessanha e Luís Miguel Cintra o próprio Wenceslau. Ainda tentarei ver.
Vi sim este fim de tarde na Cinemateca Portuguesa um documentário seu que aproveita o trabalho de base desse estudo: A Ilha de Moraes. Foi produzido em 1983. São basicamente conversas sobre o biografado, em Macau, primeiro, no Japão, depois, seguindo a ordem da sua vida. Paulo Rocha fala japonês com fluência, a côr local torna-se mais vincada.
Cinematograficamente quase não há técnica. Sem efeitos, a câmara frequentemente imóvel, como se preguiçosa a escutar a narrativa, há momentos de alguma monotonia. Além disso a qualidade da imagem é pobre, o som ténue.
Verdadeiramente o filme não capta a essência da sensibilidade de Moraes, se bem que perpasse por ele uma devoção permanente. Mas cumpre a sua função. Ao chegar a casa tenho comigo o Bon-Odori em Tokushima, o livro do último dos lugares onde Moraes viveu, depois de ter renunciado a tudo quanto o ligasse a Portugal. Já o tinha lido e sublinhado, agora quero lê-lo uma outra vez. É isso que nem sempre o bom cinema, o de substância e o que tem técnica, consegue: vontade de mais.
Oficial de Marinha, sobretudo escritor, Moraes é um português triste como tantos portugueses. Sofreu de uma insidiosa doença, a doença de quem ama. Morreu sozinho.