domingo, 8 de novembro de 2009

A ver estrelas...com Maria João Medeiros


Às vezes uma pessoa engana-se e eu enganei-me. Julgava que era um ensaio e era afinal uma espécie de livro de reportagens, embora com apêndice bibliográfico e menções a documentos dos Arquivos Nacionais. Trata dos que adivinham o futuro. Podiam ser todos, mas são só alguns. Está lá um meu conhecido, que não pessoalmente, mas por lhe ter lido um livro e ter fixado que a Torre de Belém tem como espessura das paredes 365 milímetros e estão nela, como memória em pedra, outras circunstâncias simbólicas, em que o acaso não basta como explicação suficiente, como é comum na arquitectura sacrada: é o Paulo Cardoso, apodado com não pouca pompa, de «embaixador informal da cultura lusa». Mas estão outros, como o «professor» Horus e a Delfina Lapa, o primeiro a gabar-se a Fernando Dacosta que o dia 25 de Abril calhou nesse dia por ter sido consultado sobre o dia fausto por «dois estrategas da Revolução», o «Raphael Baldaya», cognome aliás do Fernando Pessoa, o único que me merece respeito profundo, a Maria Emília Vieira, elevada à categoria de «a mais preponderante consultora esotérica durante o Estado Novo», que escrevia cartas com as suas previsões astrológicas a Salazar sem ser certo que ele as lesse e, mais antiga, a Virgínia Rosa Teixeira, a «Madame Brouillard», com gabinete cativo na Ra do Carmo, 43, sobre-loja., estudante das «ciências fisiognómicas» e, rezava anúncio «da sua aplicação prática pelas teorias de Gall, Lavater, Desbarrolles, Lambroze e d' Arpenligney».
Mas permitam-me que os olhos me tenham caído na Eunice Cristina Maia Morais de Carvalho, «Maya» de seu nome profissional. Quartanista de Direito optaria pelos Astros e pela cartomância. Um dia aligeirou a indumentária para uma revista dita «para homens». Ei-la, Taróloga. É a demonstração em carne e osso - pouco osso - de que o Oculto pode ser desocultado.
P. S. O livro que refiro foi escrito por Maria João Medeiros, signo Leão. Em 2008 foi co-autora do Dossier Regicídio : o processo desaparecido. Esse sim um mistério que resiste às leis do pêndulo.