sábado, 7 de novembro de 2009

Cuntas, de António Bárbolo Alves



Talvez a língua portuguesa, fechada em si, muito consoante e átona, tenha perdido a capacidade de ser carinhosa, como o galego e o mirandês, em que até as ideias parecem sentimentos.
Estou a ler as Cuntas de la Tierra de las Faias, em mirandês e uma vez mais maravilhado com aquele modo de exprimir e mesmo fascinado pela forma que ganham as letras impressas, tão familiares e simultaneamente diferentes, a ler num murmúrio para que a fonética ensine o sentido, tirado pelo modo como soa.
Escreveu António Bárbolo Alves. Nasceu em Picuote. O livro já tem nove anos. A editora já se foi. «L die era tan claro que la tirera relhuzie até l anfenito» e Gabilan, sabia que «un home solo ten miedo se pensar que l miedo quier algo cun el».
Gabilan voará, esperando a sua hora, ansioso porque «çquecia-se até de l que la mai le dezie muitas bezes: " - Miu filho, bun se nace páixaro, daprende-se a sê-lo!"». Do alto dos céus, «a bolar bien alto para nunca ser bisto», Gabilan descobria, enfim, que «l anfenito iba ganhando forma».